Se essa dor tivesse formato
Seria toda pontiaguda
E o coração que já não quer maus-tratos
Não a pode mais suportar
Adquiriu sua forma e tamanho
Já não se recompõe como antes
De tantos remendos, rasgou
De tantos remédios, dopou
De tanto lutar se rendeu
Ao desespero de andar no breu
À procura de uma réstia de luz
O coração já não quer bater
Porque a cada batida, cansado, dói mais
E faz áspero o sangue correr
Sustentando esse corpo infame
Só para doer’inda mais.
Meu olhar nada distingue, embaçado
Conforme avanço o caminho
E se lágrimas o clareassem...
Ah! Isso seria divino
Não. Mas me obtusa’inda mais a visão.
E se meus pés não bambeassem
Se esse amor não fosse imenso
Talvez as lágrimas secassem
No simples soprar do vento
Ah mas como é grande esse amor!
Como pulsa em meu peito esse amor!
E me faz viver
E me faz morrer
Lentamente, tirando meu fôlego devagar
Querendo me sufocar, paralisar
Homeopaticamente roubando minha energia vital
De forma tão sutil
Dando um formato ingrato a essa dor real
Fazendo-a tomar dimensões das quais nunca se viu
Até quando?
Mata-me logo Amor, de uma só vez!
A me torturar assim e, aos poucos,
Me sentir morrer...